A precarização das relações de trabalho, iniciada a partir do golpe que retirou do governo a presidenta Dilma Rousseff, ganhou corpo no governo ilegítimo de Michel Temer, se acelera com Jair Bolsonaro, e atinge também os professores.
Há algum tempo, a terceirização vinha sendo largamente praticada nas chamadas “atividades-meio” nas empresas (limpeza, vigilância, transportes e outras) e mesmo nos serviços públicos, como entre os funcionários das escolas e na saúde pública. Entretanto, no governo Temer, uma lei associada à reforma trabalhista ampliou essa possibilidade também às chamadas “atividades-fim”, tornando praticamente ilimitada a terceirização.
Com isso, temos agora em expansão uma modalidade extremamente precária de contratação de professores, que vem sendo praticada não somente na educação básica privada, mas também no ensino superior. É a chamada uberização da contratação docente. Como isso funciona?
Vamos tomar o exemplo da empresa Prof-e, ou chamada Uber-docente (isso mesmo, você não leu errado). Ela faz um cadastro nacional de docentes interessados em ministrar aulas avulsas nas escolas ou faculdades que necessitem rapidamente de um profissional. O professor interessado passa por um processo seletivo simplificado e é incluído em uma lista. Com isso, ele pode ser contratado e receberá o valor que a instituição se dispuser a pagar. Não há vínculo, nem direitos trabalhistas.
Dá para antever que a modalidade aprofundará também um dos principais dramas do professorado no país, que é a monumental disparidade salarial em relação às profissões com o mesmo nível de qualificação. Se já ganhamos mal, ganharemos ainda pior.
O mais grave é que formalmente nada impede que esse sistema precário possa ser usado também nas redes públicas de ensino, do básico ao superior. Em Ribeirão Preto, o prefeito do PSDB iniciou um procedimento para instituir essa modalidade de contratação no Município, mas até o momento a iniciativa não se tornou lei, graças à mobilização da APEOESP e outras entidades da região.
Na realidade, já existem muitas modalidades precárias de contratação de professores nas redes públicas, mas nenhuma chega ao grau de degradação do “Uber-docente”. Na rede estadual de ensino de São Paulo, conseguimos inscrever no Plano Estadual de Educação a Estratégia 18.20, que obriga o Estado a instituir uma forma de contratação que assegure aos professores temporários direitos equivalentes aos dos efetivos. Em ação movida pela APEOESP, a justiça considerou ilegal a atual forma de contratação regulada pela lei complementar 1093/2009 e definiu que devem ser realizados concursos públicos.
A qualidade da educação passa pela valorização de seus profissionais. Contratação por concurso público, digna para professores temporários, planos de carreira que valorizem os professores desde o ingresso até a aposentadoria, são medidas fundamentais que não combinam com a onda de retrocessos que estamos vivendo no nosso país. A “uberização” é realmente a gota d´água. É preciso a mais ampla união de todos os professores e o apoio da sociedade para impedi-la.
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