Bolsonaro chega ao limite do insuportável

Bolsonaro chega ao limite do insuportável

A declaração de Jair Bolsonaro endereçada ao presidente da OAB nacional, Felipe Santa Cruz, dizendo que se ele quisesse saber como seu pai foi morto pela Ditadura Civil-Militar brasileira estaria disposto a contar é simplesmente chocante.

Como professora, me sinto no dever de ser didática e explicar coisas que, a rigor, são óbvias de tão evidentes. Como postura moral, é indecente. Não se faz política em cima do sofrimento de um filho que perdeu o pai com 2 anos de idade e que nunca conseguiu enterrá-lo.

Como ato político, é anti-republicano, anti-humanista e uma forma de desprezo às instituições. Um atentado à civilização. Simplesmente não se joga com isso.

Como fato jurídico traz inúmeras implicações. Se o presidente sabe como um cidadão formalmente desaparecido morreu, tem o dever de falar. Senão, comete prevaricação. E dá elementos fortes para preencher o tipo específico de quebra de decoro que, por sua vez, pode ensejar o processo de impeachment.

O repúdio geral a essa declaração criminosa começa a dar o tom de uma insatisfação profunda com um governo que só se sustenta mantendo o discurso das eleições. E que não entrega um país melhor. Ou mais unido. Ou com paz social. Pelo contrário: só desagrega, contamina com ódio e faz da Presidência da República instrumento para promover retrocessos.

Familiares de mortos e desaparecidos pela ditadura escreveram uma carta em repúdio às declarações de Bolsonaro. Leia abaixo:

Ao povo brasileiro

Nós, familiares dos mortos e desaparecidos durante o período ditatorial, repudiamos a fala e os atos do Presidente Jair Bolsonaro sobre Fernando Santa Cruz.

Falta ao Presidente Jair Bolsonaro o decoro, a ética, a dignidade e o idealismo daqueles homens e mulheres que lutaram por um país justo e democrático.

De maneira irresponsável e mentirosa o Sr. Bolsonaro pretende zombar do que foi uma página triste e vergonhosa da nossa história recente.

Fazemos nossa as palavras

“A natureza, como a história,
Segrega memórias e vidas
E cedo ou tarde desova
A verdade sobre a aurora.
Não há cova funda
Que sepulte
A rasa covardia
Não há túmulo que oculte
Os frutos da rebeldia.
Cai um dia em desgraça
A mais torpe ditadura
Quando os vivos saem à praça
E os mortos, da sepultura.”

Affonso Romano de Sant’Anna, em Os Desaparecidos.

Assinam esta nota os familiares de:
Fernando Santa Cruz
David Capistrano
Elson Costa
Iran Pereira
Jaime Miranda
João Massena
Joel Vasconcelos
Luiz Almeida de Araújo
Luiz José da Cunha
Luiz Maranhão
Orlando Bonfim Júnior

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