A declaração do secretário municipal de Educação da capital, Bruno Caetano, culpando os sindicatos e os conselhos escolares pela resistência à reabertura das escolas, repete o discurso irresponsável de seu colega do Estado (e de partido) Rossieli Soares.
Vamos ser didáticos (quem sabe, assim, eles entendem):
1. Só haveria possibilidade de abrir escolas com segurança num cenário de queda consistente da taxa de contágio, na forma preconizada pela OMS e pelas autoridades sanitárias.
2. Em São Paulo a queda não é acentuada. Não tivemos platô. Convivemos durante meses com uma verdadeira chapada de casos novos e de mortes.
3. Além disso, não se apresentou um plano consistente de retorno. Ele só seria digno de respeito se, para além do básico – oferta de máscaras, EPIs e álcool em gel – lidasse com problemas infraestruturais das escolas, que não têm ventilação adequada. Pesquisa do Instituto de Arquitetos do Brasil, que nós, da APEOESP, encomendamos (e que o Governo do Estado não rebateu), mostrou que em 89% das escolas há apenas dois sanitários. Em quase 1000 delas não há pátio para atividades externas. Reflita: você se sentiria seguro de mandar seus filhos para escolas assim?
4. Falar dos exemplos estrangeiros é um argumento que beira o ridículo. Na Europa, houve quarentenas rigorosas, defendidas com clareza por governos em todos os níveis. Aqui, tivemos discursos desconexos e ações desarticuladas, responsáveis, também, pelo platô que virou chapada. E mesmo na Europa escolas estão fechando diante da iminência de uma segunda onda.
5. O que dizer, então, do silêncio do governo referente a mais de 20% dos professores estarem em grupo de risco? Quem vai substituí-los? E os diretores nessa condição? Servidores da Educação? Cadê os números?
6. Certo discurso criminoso tem atribuído aos professores o desejo de não voltar para supostamente ganhar sem trabalhar. É mentira. Os professores estão trabalhando MUITO, cuidando de atividades on-line, atendendo alunos remotamente e lidando com o resultado prático de uma desigualdade social avassaladora que eles não deram causa. E cuidando das suas atividades domésticas e de seus filhos, como todos os cidadãos deste país.
7. Por fim, a bobagem do “bares abertos, escolas fechadas”. Discurso tosco que revela ou ignorância, ou má-fé. Só em SP a Educação pública movimenta mais de 4 milhões de pessoas todos os dias. Para cumprimento de atividade obrigatória. Além disso, um erro não justifica o outro. Especialmente quando envolve crianças, cujo interesse deve ser protegido em caráter absoluto por determinação constitucional.
Sim, somos “culpados” por defendermos a vida dos professores, dos estudantes, dos funcionários e de suas famílias. E temos orgulho disso.