A entrevista do ministro da Educação, Abraham Weintraub (Clique aqui e leia a reportagem do Uol com a entrevista), é a prova cabal de que está em curso um projeto obscuro para a universidade pública brasileira. Ele tem muitos pontos controvertidos, mas por ora vou me deter em dois. Não sem antes dizer que ele age como o seu patrão: sem transparência, sem discussão com os interessados, sem debate público.
O primeiro tem a ver com o papel do Estado como indutor do desenvolvimento. O ministro diz que não dá para comparar Rio e SP ao Acre em termos de potencial. E que no Pará, por exemplo, deve ser estimulada a parceria com a iniciativa privada para explorar a biodiversidade da Amazônia.
Não concordo. Ao defender esse modelo, o ministro está contribuindo para aprofundar desigualdades regionais, o oposto do que deve ser a atuação do Estado. Na prática instituições localizadas no Brasil profundo serão sucateadas e eliminadas, pelo “modus operandi” de quem entende que educação superior pública de qualidade não deve existir fora de onde mora a elite econômica do país.
O segundo ponto é a banalização do modelo de organização social (O.S.) na educação superior. Trata-se claramente de uma chicana para subverter a regra do concurso público, que seleciona sempre o candidato mais preparado. Se, como diz o ministro, há professores encostados, o problema não está no modelo de seleção, mas na forma de avaliação do professor. Ninguém é a favor de professor improdutivo, mas isso não pode ser justificativa para implodir a regra do concurso público.
Trata-se de uma desculpa esfarrapada para permitir que grupos privados selecionem perfis ideologicamente alinhados em prejuízo de quem tem mérito para entrar. Da forma como o ministro apresenta as coisas, entendo que é o momento de reagirmos. Não podemos deixar passar mais esse absurdo em prejuízo da educação pública de qualidade!